O objetivo de um chefe de equipe é, entre várias outras responsabilidades, formar uma dupla de pilotos talentosos capazes de impulsionar o progresso do time e competir por títulos, tanto no campeonato mundial de pilotos quanto no de construtores. Embora seja verdade que ter uma dupla altamente talentosa torne mais fácil alcançar o sucesso, nem sempre é a melhor maneira na F1.
A maioria dos pilotos de Fórmula 1 não deseja ser apenas um coadjuvante. Quando têm um carro capaz de vencer, muitas vezes ignoram acordos prévios com a equipe ou o companheiro, e assim a guerra é declarada. Testemunhamos esse cenário várias vezes na categoria, mas é claro que algumas dessas batalhas foram verdadeiramente memoráveis, ganhando um lugar de destaque na história do automobilismo mundial.
Por isso, aqui selecionamos 10 duplas históricas. Levamos em conta a combinação de talento, batalhas nas pistas e até mesmo a relação entre os pilotos. Algumas duplas viveram em um ambiente de paz e cordialidade dentro e fora dos autódromos, outras com nervos a flor da pele e uma rivalidade capaz de extrapolar as curvas das pistas.
James Hunt e Jochen Mass, McLaren (1976-1977)
Jochen Mass, piloto alemão, já fazia parte da equipe McLaren quando James Hunt chegou em 1976, substituindo Emerson Fittipaldi que foi para a Copersucar. A relação entre os dois não foi das melhores no primeiro ano, porém, no final, o título de Hunt ajudou a manter um clima agradável dentro da escuderia britânica. Entretanto, em 1977, o caldo começou a azedar, culminando em uma verdadeira guerra entre os dois pilotos durante o Grande Prêmio do Canadá.
Em uma tentativa de ultrapassagem para dar uma volta em Mass, Hunt acabou colidindo com ele, resultando no abandono do inglês. Enfurecido, Hunt permaneceu fora da pista, erguendo o punho em sinal de reprovação a cada passagem de seu companheiro pelo local do incidente. No final, um fiscal que tentou intervir acabou sendo agredido, e a McLaren viu seus dois pilotos distanciados da disputa pelo título naquela temporada.
Fernando Alonso e Lewis Hamilton, McLaren (2007)
A McLaren estava determinada a recuperar seu lugar no topo da Fórmula 1 e, para isso, contratou o bicampeão mundial Fernando Alonso, junto com o jovem talento Lewis Hamilton como seu companheiro de equipe. No entanto, o que a equipe de Woking não esperava era o impressionante talento do jovem piloto britânico.
Hamilton conquistou incríveis nove pódios consecutivos nas nove primeiras corridas de sua carreira na categoria, estabelecendo-se como um adversário direto de Alonso na disputa pelo título da temporada.
O que parecia ser um caminho certo para o título da McLaren, rapidamente se transformou em um pesadelo. Alonso foi acusado de prejudicar intencionalmente Hamilton durante o treino classificatório do GP da Hungria, em uma clara demonstração de rivalidade dentro da equipe.
Além disso, a equipe enfrentou acusações de espionagem industrial, resultando na perda do título de construtores, uma multa substancial e uma reputação manchada. Para piorar, na última prova da temporada, de forma surpreendente, Kimi Räikkönen, da Ferrari, conquistou o título mundial de pilotos no GP do Brasil.
Apesar de todos os esforços para evitar problemas, o plano da McLaren não deu certo em 2007, e a equipe enfrentou uma temporada repleta de tensões internas e controvérsias, deixando escapar a oportunidade de conquistar o campeonato que parecia ao seu alcance.
Lewis Hamilton e Nico Rosberg, Mercedes (2013-2016)
Nico Rosberg foi um dos companheiros de equipe mais duradouros de Lewis Hamilton, tendo competido juntos na Mercedes entre 2013 e 2016. Durante esse período, conquistaram três títulos mundiais – dois para Hamilton em 2014 e 2015, e um para Rosberg em 2016 – além de três campeonatos de construtores para a Mercedes.
Eles formam uma das duplas que mais alcançaram dobradinhas na história da Fórmula 1. Ao todo, subiram ao pódio juntos em 31 ocasiões, sendo oito delas somente no ano de 2016.
Apesar dos bons resultados, a trajetória deles não esteve isenta de polêmicas, com alguns momentos de tensão, como no GP da Espanha em 2016. No entanto, a relação entre eles é mais complexa do que apenas rivalidade. Rosberg e Hamilton são amigos de infância e competidores ferrenhos. Essa mistura de amizade e rivalidade resultou em uma das parcerias mais interessantes da categoria.
A história de Rosberg e Hamilton na Fórmula 1 é marcada por intensas batalhas nas pistas, rivalidade saudável e momentos de superação. Sua relação, embora às vezes conturbada, contribuiu para elevar o nível de competitividade na categoria e para o sucesso da equipe Mercedes durante esses anos.
Niki Lauda e Alain Prost, McLaren (1984-1985)
A parceria entre Niki Lauda e Alain Prost na McLaren foi um dos momentos mais marcantes da história da Fórmula 1. Lauda, já havia experimentado o gosto doce e amargo da categoria. Chegou a equipe britânica após desistir da aposentadoria. Vinha com a experiência e a pompa de um bicampeão mundial, com a superação de sobreviver ao terrível acidente que quase lhe custou a vida no GP da Alemanha em 1976.
Prost, por sua vez, era um piloto francês altamente técnico e estrategista. Estava em um momento que precisava “se provar” afinal saiu da Renault com a dura derrota na temporada de 1983, quando um título que parecia certo acabou escapando para Nelson Piquet.
A relação entre o francês e o austríaco era caracterizada por uma parceria sólida, sem deixar de lado a intensa competitividade. Como companheiros de equipe na McLaren nas temporadas de 1984 e 1985, eles levaram o título de construtores para a equipe em ambos os anos. No primeiro ano, Lauda conquistou o título mundial de pilotos por uma margem mínima de 0,5 ponto, marcando uma das vitórias mais acirradas da história da F1. Já em 1985, Prost dominou o campeonato e garantiu o primeiro de seus quatro títulos ao longo da carreira.
A dinâmica entre os dois nem sempre foi perfeita, mas fora das pistas, a relação foi construtiva. Prost mencionou em diversas ocasiões que aprendeu muito com Lauda, destacando a importância da sua convivência.
A parceria entre Alain Prost e Niki Lauda é um exemplo de como pilotos talentosos podem colaborar e crescer juntos, mesmo em um ambiente altamente competitivo como a Fórmula 1. Sua contribuição para a McLaren e para o esporte como um todo é inegável, deixando uma marca duradoura na história da categoria.
Alan Jones e Carlos Reutemann, Williams (1980-1981)
Uma disputa intensa foi desencadeada por uma placa com os dizeres “Jones-Reut”. Em 1980, o argentino Carlos Reutemann chegou à equipe Williams com uma única missão: ajudar seu companheiro de equipe, Alan Jones, a conquistar o campeonato mundial. Essa meta foi alcançada no final da temporada, com o título do australiano. No ano seguinte, Reutemann sabia que provavelmente seria sua última temporada na Fórmula 1 e, portanto, acreditava que não deveria se contentar em ser o segundo piloto da equipe.
Apesar de Jones ter vencido a primeira corrida da temporada em Long Beach, na segunda prova, Reutemann estava liderando quando surgiu a placa com a inscrição “Jones-Reut”, indicando uma ordem para que os dois pilotos da Williams trocassem de posição. No entanto, o argentino decidiu não acatar a decisão e venceu a corrida, começando uma batalha interna dentro da equipe de Frank Williams.
No desfecho da temporada, Reutemann chegou à última prova em Las Vegas disputando o título com Nelson Piquet, mas acabou perdendo. Curiosamente, o primeiro piloto a cumprimentar o brasileiro após a confirmação do título foi Alan Jones, que comemorou como se ele próprio tivesse se tornado o campeão mundial de 1981.
Gilles Villeneuve e Didier Pironi, Ferrari (1982)
Nenhuma dupla de pilotos alcançou tal nível de rivalidade, capaz de gerar uma verdadeira tragédia quanto Giiles Villeneuve e Didier Pironi na Ferrari. A temporada de 1982 começou com uma disputa entre a FOCA (Federação dos Construtores) e a FISA (atual FIA).
No início daquela temporada, foi difícil chegar a um acordo, resultando no boicote das equipes associadas à FOCA no Grande Prêmio de San Marino, que contou apenas com 14 carros. Como resultado, a Ferrari dominou em Ímola, com seus dois pilotos, Villeneuve e Pironi, destacando-se dos demais.
A corrida transcorria tranquilamente, e poucas voltas antes do final, a equipe deu a ordem para que seus pilotos reduzissem o ritmo e mantivessem suas posições. Villeneuve obedeceu, mas Pironi não: ele acelerou e ultrapassou seu companheiro de equipe. O canadense não ficou nada satisfeito e retomou a liderança, mas, mais uma vez, Pironi atacou e retomou a primeira posição. Desta vez, o canadense não teve tempo suficiente para se recuperar e perdeu a corrida. Furioso, Gilles recusou-se a subir ao pódio e declarou guerra ao seu companheiro de equipe, enquanto o francês fez-se de desentendido, dizendo: “a equipe pediu para reduzir o ritmo, não para manter as posições”.
Na corrida seguinte, na Bélgica, todas as atenções estavam voltadas para a dupla da Ferrari. Pironi obteve o sexto tempo de classificação, enquanto Villeneuve estava em sétimo e tentava desesperadamente largar à frente de seu rival. No entanto, em uma volta rápida, ele acabou colidindo com a March de Jochen Mass.
O carro da Ferrari voou e o canadense foi arremessado para fora do carro, com o impacto Gilles Villeneuve acabou morrendo quase que instantaneamente. Após o trágico acidente, Pironi se tornou o primeiro piloto da equipe e obteve bons resultados, tornando-se o favorito absoluto para conquistar o título da temporada.
No entanto, ao chegar à Alemanha, Pironi foi testar os pneus “biscoito” em condições de forte chuva e acabou se chocando com a Renault de Alain Prost. Em um acidente semelhante ao de Villeneuve, a Ferrari literalmente decolou, mas o francês sobreviveu. Devido a graves lesões nas pernas, Pironi deixou a Fórmula 1 e ficou com o vice-campeonato de 1982.
Em 1987, Didier Pironi faleceu em um acidente de lancha durante uma competição de Powerboats, deixando sua esposa, Johann, grávida de gêmeos. Curiosamente, as duas crianças receberam os nomes que o pai havia escolhido: Pironi Jr. e Villeneuve.
Alain Prost e Ayrton Senna, McLaren (1988-1989)
Para muitos, a rivalidade entre Alain Prost e Ayrton Senna é considerada a maior da história da Fórmula 1. Assim como Mansell e Piquet, a dupla Prost e Senna tinha semelhanças em seu início: de um lado, um bicampeão mundial já estabelecido, do outro, um piloto famigerado em busca de glórias.
No entanto, Senna diferenciava-se de Mansell por sua habilidade e sua velocidade impressionante. Ele conquistou o título mundial de 1988 com uma recuperação impressionante no Grande Prêmio do Japão, após cair para a 16ª posição na largada.
Embora o clima entre os dois já não fosse o melhor no início de 1989 (especialmente após um incidente em que Prost foi fechado por Senna no Grande Prêmio de Portugal de 1988), a guerra entre eles só explodiu no Grande Prêmio de San Marino, a segunda etapa da temporada.
Havia um acordo entre a dupla para “não atacar um ao outro na primeira volta”, mas Senna quebrou esse acordo na relargada da prova em Ímola. A partir desse momento, o chamado “Dream Team” da Fórmula 1 se dividiu, a batalha foi exposta e a mídia teve um prato cheio com os dois pilotos não poupando ameaças um ao outro.
E o desfecho não poderia ter sido diferente: após pouco mais de 40 voltas, com ambos dando o máximo de si em Suzuka, Prost e Senna colidiram na chicane. O brasileiro conseguiu retornar à pista e vencer a corrida, mas foi desclassificado, e o título da temporada ficou nas mãos do francês. No ano seguinte, Prost foi para a Ferrari em busca de paz, mas não foi bem isso que ele conseguiu.
Alain Prost e Nigel Mansell, Ferrari (1990)
Se Alain Prost esperava encontrar paz na Ferrari após uma temporada turbulenta na McLaren, certamente subestimou o impacto de ter Nigel Mansell como seu companheiro de equipe. Embora não houvesse razões aparentes para um possível conflito entre eles, os bons resultados de Prost despertaram em Mansell a sensação de que o francês estava sendo privilegiado pela equipe de Maranello. O “Leão” chegou a acusar Prost de ter “roubado” seu chassi e de ter alterado o número para encobrir a troca.
A realidade era que Prost estava se adaptando melhor ao carro que muitos acreditavam ser o veículo que finalmente levaria a Ferrari de volta ao topo da Fórmula 1, enquanto Mansell enfrentou dificuldades e abandonou sete das 16 corridas da temporada. Prost obteve cinco vitórias, em comparação com apenas uma de Mansell.
No final, o francês chegou a Suzuka com chances de conquistar o campeonato, enquanto Mansell, que havia anunciado sua aposentadoria, mas depois voltou atrás e assinou com a Williams para a próxima temporada, era apenas um espectador.
No entanto, o título escapou das mãos de Prost devido a Ayrton Senna, que não hesitou em colidir sua McLaren com a Ferrari de Prost na primeira curva de Suzuka, como uma forma de vingança pelo incidente ocorrido no ano anterior. Assim, o francês foi privado do campeonato, e a rivalidade entre Prost e Senna atingiu seu ponto mais alto naquele momento.
Michael Schumacher e Rubens Barrichello, Ferrari (2000-2005)
A parceria entre Michael Schumacher e Rubens Barrichello é uma das mais conhecidas e duradouras na história da Fórmula 1. Schumacher, considerado um dos maiores pilotos de todos os tempos, foi contratado pela Ferrari em 1996, e Barrichello se juntou a ele em 2000.
Durante os anos em que competiram juntos, Schumacher e Barrichello tiveram uma relação complexa. Schumacher era o piloto principal da equipe e conquistou cinco títulos mundiais consecutivos de 2000 a 2004, estabelecendo seu domínio na categoria. Barrichello, por sua vez, desempenhou o papel de piloto de apoio, ou se preferir o “escudeiro”, ajudando a Ferrari a conquistar o título de construtores em várias ocasiões.
No entanto, a relação entre os dois nem sempre foi tranquila. Houve momentos em que Barrichello sentiu-se frustrado com seu papel de segundo piloto e com a preferência dada a Schumacher dentro da equipe. Em algumas corridas, Barrichello foi instruído a deixar Schumacher ultrapassá-lo, o que gerou controvérsias e críticas à Ferrari.
Um dos episódios mais marcantes aconteceu no GP da Áustria em 2002, quando Barrichello estava prestes a vencer a corrida, mas foi instruído a ceder a posição a Schumacher na linha de chegada. A equipe recebeu uma forte reação negativa do público e da mídia, considerando a atitude antidesportiva. A atitude foi considerada por torcedores e especialistas, como um dos momentos mais vergonhosos da Ferrari.
Apesar disso, Schumacher e Barrichello também tiveram momentos de respeito mútuo e cooperação. Fora das pistas, mantiveram uma relação amigável e demonstraram apoio um ao outro.
No geral, a parceria entre Schumacher e Barrichello é lembrada como uma das mais icônicas da Fórmula 1. Embora tenham surgido conflitos e diferenças ao longo dos anos, ambos os pilotos contribuíram para uma era vitoriosa da Ferrari, deixando uma marca significativa na história da categoria.
Nelson Piquet e Nigel Mansell, Williams (1986-1987)
Novamente, a equipe Williams foi palco de uma intensa disputa entre seus dois pilotos. De um lado, o bicampeão Nelson Piquet, do outro, o britânico Nigel Mansell em busca de seu primeiro título. Inicialmente, parecia que o campeonato de construtores de 1986 seria uma tarefa fácil para a equipe, e que o título de pilotos ficaria nas mãos de um dos competidores da equipe de Grove.
No entanto, tudo mudou quando o chefe da equipe, Frank Williams, sofreu um grave acidente que o deixou paraplégico, forçando-o a se afastar da equipe. Com isso, Mansell passou a contar com o apoio total de Patrick Head, e essa decisão causou a insatisfação de Piquet.
Consequentemente, a equipe foi dividida em dois lados, facilitando as coisas para Alain Prost, da McLaren, somar pontos e sonhar com o título, o que acabou se concretizando na última corrida da temporada em Adelaide, na Austrália. No final, o francês ficou com o título e a Williams ficou sem o caneco de pilotos, sendo considerado por muitos um verdadeiro vexame.
Em 1987, a rivalidade entre os dois pilotos intensificou-se ainda mais. Com a Williams sabotando o desenvolvimento do carro de Piquet, o brasileiro decidiu iniciar uma guerra psicológica contra Mansell e acabou tendo sucesso. Ele começou a atacar publicamente o inglês, chamando-o de burro e afirmando que a esposa do rival era a mulher mais feia do mundo. Além disso, Piquet teve outras atitudes provocativas, como esconder o papel higiênico quando Mansell enfrentou uma diarreia no Grande Prêmio do México.
No Grande Prêmio do Japão, o mundo da velocidade esperava uma batalha feroz entre Piquet e Mansell, postulantes ao título de 1987, mas a guerra não aconteceu. O “Leão” acabou cometendo um erro nos treinos e bateu sua Williams violentamente contra uma barreira de pneus, o acidente o deixou fora da corrida, garantindo a Piquet o tricampeonato mundial antes mesmo da prova na terra do sol nascente. O brasileiro acabou vencendo a batalha daquela temporada, no capitulo final de uma rivalidade que teve histórias dentro e fora das pistas.