A cada ano que passa a Fórmula 1 busca um maior desenvolvimento e carros que desafiam a tecnologia e as leis da aerodinâmica. Mas um em especial não passa pelo mesmo processo, mas não deixa de ser rápido e de chamar atenção de todos sempre que é acionado: O Safety Car.
Hoje, o Aston Martin Vantage F1 Edition é o responsável por limitar os pilotos após algum acidente ou anormalidade durante uma corrida. Capaz de atingir 314 km/h e ir de 0 a 100 em menos de 4 segundos, a máquina não faz feio no quesito velocidade e tecnologia, mas isso já foi bem diferente.
E um bom exemplo disso aconteceu no GP Brasil em 1993. Ayrton Senna conquistou sua última vitória em terras brasileiras há 30 anos. A corrida do dia 28 de março de 1993, sob chuva, no Autódromo de Interlagos, foi marcante para os torcedores nas arquibancadas e pela TV.
Até hoje, recordamos essa prova não apenas pela vitória de Senna, mas também pela invasão da torcida, que tomou a pista após a bandeira quadriculada e carregou o piloto nos braços. Naquele momento, o tricampeão mundial da Fórmula 1 foi “resgatado” do meio da multidão pelo safety car da corrida, um Fiat Tempra de cor vinho.
As imagens do piloto acenando para a torcida, enquanto estava sentado na janela do carro e segurando a bandeira brasileira se tornaram mundialmente famosas. No entanto, o que aconteceu com o Fiat Tempra deste momento histórico?
Onde foi parar o histórico Fiat Tempra?
Ivan Gusmão, um empresário de 54 anos e um grande fã de Ayrton Senna, tinha o mesmo questionamento. Ele empenhou quatro anos de busca dedicada até finalmente localizar a relíquia largada em São Roque, no interior de São Paulo, em dezembro de 2017.
Naquela época, Gusmão, morador de Itabuna (BA), já estava ciente do chassi do Tempra que tanto almejava. Segundo ele, a sequência de números e letras havia sido previamente fornecida por um ex-executivo da Fiat.
“Na véspera do Natal, deparei-me com o anúncio desse carro e as placas FBM-1001 chamaram a minha a atenção, embora o Tempra não estivesse ainda emplacado durante a prova. Em janeiro, entrei em contato com o anunciante e o chassi bateu. Na hora, deu uma tremedeira e comecei a suar frio”, relembra
Acompanhado por um mecânico, o empresário foi até São Roque e fechou o acordo por uma quantia surpreendentemente baixa, de apenas R$ 2,5 mil. Segundo o empresário, antes mesmo de iniciar a restauração que deixaria o sedã em seu estado original no dia da corrida, ele recebeu uma oferta de R$ 200 mil, que acabou recusando.
Gusmão também relata que, aproximadamente três meses após a conclusão da restauração, em julho de 2018, uma casa de leilões do Reino Unido se ofereceu para adquirir o carro por cerca de R$ 2 milhões – o que, sem dúvida, o tornaria o Tempra mais valioso do mundo.
“Não assinei nenhum contrato, mas a venda está apalavrada. Antes disso, porém, espero que o safety car volte a acelerar em Interlagos em um Grande Prêmio do Brasil, algo que ainda não consegui realizar”, diz Ivan Gusmão. Ele ainda planeja lançar um livro, já “quase pronto”, sobre a saga envolvendo a compra e a reforma do Tempra Ouro 16V 1993 icônico
Luciano Huck tentou reformar o Tempra e ouviu um NÃO
Como um grande entusiasta de tudo relacionado à carreira de Ayrton Senna, Gusmão relata que investiu um total de R$ 50 mil na restauração do Safety Car. Todo o trabalho foi realizado em uma oficina de Itabuna.
Além disso, Gusmão recusou uma proposta para reformar o Tempra no programa “Lata Velha” do “Caldeirão do Huck” (TV Globo), preferindo valorizar o trabalho realizado em sua própria região. A restauração abrangeu serviços de funilaria e pintura, bem como a substituição de peças antigas ou danificadas por peças novas.
A partir desse ponto, deu-se início a todo o processo de caracterização para torná-lo “exatamente” igual ao visual do Grande Prêmio, com base em vídeos e fotos da época. Isso envolveu a aplicação dos adesivos na carroceria e a instalação dos três “giroflex” – um no teto e dois na tampa do porta-malas.
Ivan Gusmão foi tão meticuloso em sua dedicação à restauração que até mesmo a credencial original afixada no vidro, que permitiu ao Fiat Tempra entrar na pista em 1993, foi reproduzida.
Além de sua paixão pelo Tempra, o empresário também personalizou sua coleção de VW Fuscas com adesivos inspirados nas equipes de Fórmula 1 de Ayrton Senna, incluindo Toleman, Lotus, McLaren e Williams. Surpreendentemente, ele até possui um com as cores da Ferrari, embora Senna nunca tenha pilotado para a equipe italiana, apesar das negociações que ocorreram.