Um dos carros mais emblemáticos e inesquecíveis para os fãs brasileiros de Fórmula 1, sem dúvida é o McLaren-Honda MP4/4, conduzido por Ayrton Senna durante a temporada de 1988, ano em que o brasileiro conquistou o primeiro título mundial. Nessa temporada, a McLaren dominou o campeonato com impressionantes 15 vitórias em 16 corridas, ganhando quase tudo naquele ano. Oito dessas vitórias foram conquistadas por Senna e sete pelo francês Alain Prost.
Após um período de domínio nos campeonatos de pilotos e construtores em 1984 e 1985, e a conquista do título de pilotos em 1986 com Prost, a parceria entre McLaren e Porsche foi deixada para trás. Em 1987, a Williams-Honda, com Nelson Piquet e Nigel Mansell, se destacou, enquanto a McLaren assegurou um contrato com a montadora japonesa para obter o melhor motor da Fórmula 1 a partir de 1988. Além disso, a equipe contratou o talentoso projetista sul-africano Gordon Murray, conhecido por seu trabalho marcante na Brabham. Ele se uniu ao projetista americano Steve Nichols na concepção do modelo MP4/4.
A importância da Honda para o domínio daquele carro
Não há exagero em afirmar que o motor Honda desempenhou um papel fundamental para o sucesso daquele carro. No último ano dos motores turbo antes da mudança de regulamento para os aspirados em 1989, a Honda continuou a desenvolver sua unidade, e o fato de ela ser potente, confiável, compacta e apresentar um excelente consumo de combustível estava em perfeita sintonia com o conceito do MP4/4.
Em 1988, o consumo de combustível foi limitado a apenas 150 litros para os carros com motor turbo, como McLaren (Honda), Lotus (Honda), Ferrari (Ferrari), Arrows (Megatron), Zakspeed (Zakspeed) e Osella (Osella). Esperava-se que, com essa restrição, as equipes com motores aspirados pudessem nivelar a competição, pois não tinham limitações de consumo. No entanto, isso não aconteceu, e os carros turbo foram dominantes. Mais precisamente, não apenas os carros turbo, mas a McLaren-Honda.
O MP4/4 foi finalizado um pouco tarde, mas quando Alain Prost testou o carro pela primeira vez em Imola, no final de março, ele imediatamente registrou um tempo quase dois segundos mais rápido do que o MP4/3, equipado com o mesmo motor Honda. A McLaren então levou o novo carro para a abertura da temporada, apenas uma semana depois, no Brasil. Ayrton Senna conquistou a pole position, mas enfrentou problemas no câmbio no grid e foi desclassificado por trocar de carro – mesmo largando do fim do pelotão, ele chegou a estar em segundo lugar. Prost venceu com facilidade.
Na segunda corrida, realizada em Ímola, uma pista de alta velocidade, a superioridade da McLaren ficou ainda mais evidente: Senna foi quase três segundos mais rápido do que o tricampeão Nelson Piquet e sua Lotus, ambos com o mesmo motor – o modelo 100T concebido por Gerard Ducarouge apresentava um erro de projeto grave, o carro torcia excessivamente. Senna e Prost conquistaram a primeira de suas dez dobradinhas na temporada.
Domínio absurdo da Mclaren em 1988
Senna e Prost dominaram a temporada, trocando vitórias, apoiados por um carro excepcionalmente veloz e, além disso, confiável. Ayrton Senna deixou de pontuar em apenas três corridas: além da desclassificação no Brasil, ele sofreu acidentes em Mônaco e na Itália. Alain Prost ficou fora de apenas duas corridas: na Inglaterra, onde desistiu por se sentir desconfortável na pista molhada, e na Itália. Aliás, foi nessa corrida disputada em Monza, a única que a McLaren não venceu.
De qualquer maneira, os números foram avassaladores em favor da McLaren, que, além das 15 vitórias, conquistou 15 pole positions e registrou dez voltas mais rápidas. A superioridade de Senna e Prost foi tão impressionante que eles lideraram 97% das voltas percorridas ao longo da temporada de 1988.
No final das contas, Senna superou Prost e conquistou seu primeiro título na Fórmula 1. Nichols fez questão de enfatizar que ambos os pilotos tinham equipamentos absolutamente idênticos, tanto em termos de chassi quanto de motor:
Em 1989, ainda sob a supervisão de Murray, Nichols colaborou com Neil Oatley no desenvolvimento do modelo MP4/5, que também se sagrou campeão, embora sem o mesmo domínio avassalador de seu antecessor. Após a polêmica decisão do título, na qual Prost causou um acidente com Senna no Japão, Nichols decidiu seguir com o piloto francês para a Ferrari.