O pior ano de Senna na Fórmula 1 não teve a voz de Galvão Bueno

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Você acredita em coincidências? Se sim, essa história é sobre uma delas. Caso contrário, é apenas mais uma curiosidade interessante para compartilhar com os amigos em uma conversa descontraída. Ayrton Senna, ídolo nacional, teve uma carreira brilhante na Fórmula 1 entre 1984 e 1994, quando infelizmente faleceu aos 34 anos durante o Grande Prêmio de San Marino, em Ímola. Essa é a história que todo brasileiro fã do automobilismo conhece.

Senna se tornou campeão mundial pela primeira vez em 1988, em sua temporada de estreia pela McLaren. Após o primeiro título, Senna nunca mais deixou de terminar no primeiro ou segundo lugar, sempre no topo. Senna só não esteve entre os dois primeiros uma única vez, e isso aconteceu em 1992.

Galvão Bueno, outra figura brasileira extremamente importante, narrou os principais eventos esportivos das últimas décadas, especialmente o tetracampeonato e o pentacampeonato da seleção masculina de futebol em 1994 e 2002, e os três títulos de Ayrton Senna na Fórmula 1, sendo um grande amigo do piloto.

Galvão é conhecido por seus bordões, por ter acompanhado de perto a trajetória de vários ídolos esportivos e por sua forte identificação com a Globo, onde trabalhou desde 1981. No entanto, há um único ano em que ele não fez parte do time de transmissão da emissora e esse ano foi em 1992.

O sonho que virou frustração para Galvão

Galvão Bueno iniciou sua carreira na Globo em 1981, após passar quatro anos na Band, onde começou a narrar futebol e desenvolveu seu estilo próprio. Em uma entrevista ao “Memória Globo”, ele revelou: “O que eu queria na vida era vir para a Globo”. Antes disso, ele havia trabalhado na Gazeta (rádio e TV) e na Record, sempre atuando como comentarista.

Na Globo, Galvão conquistou seu espaço gradualmente e, dois anos depois, já era a voz por trás do segundo título de Nelson Piquet na Fórmula 1, em 1983. Ele também acompanhou de perto a ascensão e os maiores sucessos de Ayrton Senna, tornando-se um amigo próximo do piloto.

No entanto, todo esse sucesso não foi suficiente. Após iniciar a temporada de 1992 normalmente e até narrar a estreia de Edmundo como jogador profissional no jogo Vasco 4 x 1 Corinthians, Galvão Bueno pediu demissão da Globo no mês de março.

O narrador então assinou com a Rede OM, um canal do Paraná que retransmitia a Record, com grandes ambições de sucesso nacional. Além de locutor, Galvão também atuava como diretor de esportes, cuidando da produção, operação e transmissão de torneios. Logo de início, ele adquiriu os direitos de transmissão da Copa Libertadores, que já estava em andamento, mas ninguém estava exibindo, pois apenas São Paulo e Criciúma representavam o Brasil na competição.

No final, o São Paulo venceu a competição e a transmissão da Gazeta/OM alcançou 34 pontos de audiência, um recorde até hoje. A Rede OM adquiriu outros direitos de transmissão, mas acabou acumulando dívidas, demitindo funcionários e levando Galvão Bueno a tomar a decisão de sair em janeiro de 1993, apenas dez meses após sua partida da Globo. Foi uma aventura.

Galvão recebeu propostas de todos os canais de TV da época, mas optou por retornar à Globo. Sua reestreia na emissora ocorreu no GP da África do Sul, que abriu a temporada de 1993 da Fórmula 1.

1992: Uma temporada para se esquecer

Quando Galvão Bueno foi para a Rede OM, os direitos de transmissão da Fórmula 1 permaneceram com a Globo. Embora houvesse interesse do narrador em investir no automobilismo, o canal transmitia outras modalidades, como provas de rally, e contava com um programa chamado “Pódium”, que frequentemente contava com participações de Ayrton Senna. No entanto, as corridas, que eram um fenômeno de popularidade na época, não podiam ser transmitidas.

No GP da África do Sul, que abriu a temporada de 1992, o narrador da Globo foi Cleber Machado. Segundo o biógrafo de Senna, Ernesto Rodrigues, a direção de esportes da emissora tomou essa decisão com cautela, pois não queria prejudicar a possível futura estrela da narração.

No livro “Ayrton, o herói revelado”, Rodrigues explica: “[Cleber Machado] narrou as corridas da África do Sul, Brasil e Ímola sob críticas da imprensa e do público. Ele chegou em Mônaco com problemas, devido aos erros e hesitações típicas de alguém que, ele mesmo reconheceu, não era familiarizado com o esporte.”

O GP de Mônaco, vencido de forma épica por Ayrton Senna, mesmo com um carro muito inferior aos da Williams de Mansell e Patrese, foi o momento em que “a TV Globo percebeu o quanto Galvão fazia falta”, conforme descreve Rodrigues. Cleber Machado demorou a perceber que, em uma volta de Mansell durante a parada nos boxes, Senna assumiu a liderança da prova que ele venceria.

No GP seguinte, a emissora substituiu Cleber Machado pelo experiente Luiz Alfredo, que permaneceu na função até o final da temporada, marcada como um grande insucesso na carreira de Senna. No fim das contas, o piloto brasileiro nunca foi páreo para as Williams de Nigel Mansell e Riccardo Patrese.

Aliás, o inglês conquistou com certa facilidade o mundial de pilotos que tanto queria. O título foi para as mãos do “leão” no GP da Hungria, na 11ª etapa da temporada. Senna venceu apenas três provas, além do GP do Mônaco, ainda subiu no ponto mais alto do pódio na mesma Hungria onde Mansell se tornou campeão e na Itália.

Com “apenas” 50 pontos, Senna não só ficou atrás das Williams, como ainda viu o então jovem alemão Michael Schumacher, pilotando a Benetton, terminar com o 3º lugar com três pontos a mais que o brasileiro. Em 1993, com o Galvão de volta a Globo, Senna não foi campeão, ficou com o vice.

Mesmo assim, o piloto teve um desempenho muito melhor, com direito a corridas históricas, casos das vitórias no Brasil e principalmente no GP da Europa, com aquela que ficou conhecida como “maior volta de todos os tempos’”.

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