A temporada de 1990 da Fórmula 1 foi marcada por mais um duelo entre Ayrton Senna e Alain Prost. O francês havia saído da McLaren pra assinar com a Ferrari, enquanto o brasileiro seguia na equipe inglesa e tinha engasgado na garganta a decisão polêmica do mundial em 1989.
De fato, a batalha entre os rivais ditou a temporada 90, com Senna conquistando o bicampeonato com uma manobra controversa no GP do Japão. Mas além dessa briga histórica, outro fato chamou atenção naquele ano e aconteceu nos treinos do GP da Espanha. O terrível acidente do piloto Martin Donnelly.
As imagens impactantes desse acidente permaneceram na memória de todos, mesmo anos depois. Donnelly, gravemente ferido, caído no meio da pista, ainda preso em seu assento de corrida, enquanto seu carro estava despedaçado em vários fragmentos espalhados pelo asfalto de Jerez.
Como foi o acidente?
O acidente que marcou um ponto de virada na vida de Donnelly aconteceu em 28 de setembro de 1990. Trinta e dois anos depois, ele compartilhou essa experiência em detalhes durante uma entrevista no podcast “Beyond the Grid,” conduzido por Tom Clarkson.
Donnelly explicou que sua memória não retém os detalhes específicos do acidente ou mesmo do fim de semana na Espanha como um todo. Suas últimas lembranças remontam à sua participação no GP de Portugal, que aconteceu antes da corrida em Jerez.
O piloto inglês perdeu o controle de sua Lotus-Lamborghini enquanto vinha pela rápida curva Ferrari. O carro colidiu diretamente com a barreira de proteção, resultando em uma separação completa do carro em duas partes. O corpo do piloto britânico foi arremessado para o centro da pista,
Logo atrás, Nelson Piquet, pilotando sua Benetton, teve muita habilidade para atravessar seu carro pelo meio da pista, evitando assim uma possível colisão com Donnelly.
Ayrton Senna ficou em estado de choque
Seu colega de equipe na Lotus, Derek Warwick, disse após o acidente, que a sobrevivência de Donnelly parecia inimaginável. No entanto, o Dr. Sid Watkins, o médico oficial da Fórmula 1, agiu de forma rápida. Ele conseguiu ressuscitar Martin após uma parada cardíaca imediata no local do acidente, e em seguida, o piloto foi encaminhado ao centro médico. Coincidentemente, Ayrton Senna já estava presente lá, tendo chegado ao local.
Donnelly sofreu uma série de lesões, incluindo um traumatismo craniano, fraturas na perna direita, clavícula direita, tíbia, fíbula e fêmur da perna esquerda, além de lesões pulmonares e no pescoço. Após testemunhar o estado gravíssimo de seu colega, Ayrton Senna fez uma reflexão. Essa reflexão foi compartilhada em uma entrevista com Galvão Bueno que seria transmitida no especial de 40 anos da Fórmula 1 na TV Globo:
– Quando você vê situações como essa, pensa se… Até quando você vai resistir a tudo isso? Se você vai passar por tudo isso e sair ileso, sair bem, não só fisicamente, mas psicologicamente? Será que depois de tanto sucesso, não está na hora de… dar um tempo?
Após uma estabilização mínima da condição de Donnelly, o piloto da Lotus foi encaminhado ao Hospital Virgen del Rocío, localizado em Sevilha, onde iniciou uma prolongada fase de recuperação.
Devido às lesões, Donnelly nunca teve a oportunidade de retornar às corridas da Fórmula 1. No entanto, ele direcionou sua paixão pelo automobilismo para uma segunda carreira como instrutor de pilotos e, em algumas ocasiões, atuou como comissário de corridas da FIA em sua trajetória pós-Fórmula 1.