Um dos momentos mais controversos da história da Fórmula 1 tem mais de 30 anos: em um domingo ensolarado em Suzuka, no Japão, Ayrton Senna conquistou seu bicampeonato mundial após colidir com Alain Prost logo após a largada da penúltima corrida da temporada de 1990.
Esta colisão foi uma resposta à batida causada pelo francês no mesmo circuito, no ano anterior. Se em 1989 o título foi para Prost, em 1990 foi o brasileiro que levou o troféu.
Como estava o campeonato?
Senna chegou ao Japão liderando o campeonato com 78 pontos, contra os 69 de Prost. Para o francês, apenas vitórias nas duas corridas finais da temporada, no Japão e na Austrália, garantiriam o tetracampeonato.
Para o brasileiro, bastava evitar que Prost vencesse em qualquer uma das provas. Em Suzuka, conhecida por suas dificuldades de ultrapassagem, havia a sensação de que quem conquistasse a pole position e completasse a primeira curva na frente teria grandes chances de vencer a corrida.
Pedido de Senna foi negado
Nesse contexto, ainda na quarta-feira, Senna solicitou à direção de prova que a posição do pole position fosse mudada da parte de dentro da reta dos boxes, onde o asfalto era mais sujo, para o lado de fora, onde o piso tinha mais aderência, pois os carros passavam ali em todas as voltas.
Tradicionalmente, a pole position ficava do lado para o qual era feita a curva 1 – no caso de Suzuka, à direita. No entanto, essa tendência estava mudando. Em 1990, a posição do pole foi trocada nas pistas do Brasil, México, Alemanha e Portugal, criando precedentes. No entanto, os comissários, subordinados à Federação Internacional de Automobilismo (FIA), presidida pelo francês Jean-Marie Balestre, recusaram a solicitação.
Independentemente da posição do pole, a classificação tinha que ser disputada, e Senna e Prost protagonizaram uma emocionante batalha pelo primeiro lugar no grid. O francês chegou a ocupar a pole provisória até quase o fim, mas o brasileiro, com uma de suas voltas incríveis, garantiu a posição de honra, registrando 1m36s996, 0s232 mais rápido do que Prost. Nigel Mansell, companheiro de equipe de Prost na Ferrari, ficou 0s723 atrás do pole em terceiro lugar, enquanto Gerhard Berger, o quarto no grid, fez um tempo 1s122 mais lento que Senna.
Senna tinha um plano após pedido recusado
Inconformado com a decisão dos comissários de não permitirem a mudança da posição do pole position, Senna decidiu que lideraria a primeira curva ou não permitiria que Prost lhe tirasse a primeira posição, a qualquer custo. A Berger, Senna avisou para ficar atento à sua frente, pois veria uma largada emocionante. E assim, os dois rivais seguiram em direção aos seus destinos…
Prost teve uma largada muito melhor do que Senna, mas este último reagiu graças à curva de potência do motor Honda. Durante a aceleração, o brasileiro praticamente se igualou ao seu adversário. Inicialmente, o francês estava no centro da pista, mas desviou ligeiramente para a esquerda.
Foi um erro de julgamento por parte de Prost, que acabou concedendo a Senna o espaço que ele precisava para tentar uma ultrapassagem arriscada por dentro, ou mesmo causar um acidente…
Prost diminuiu ligeiramente sua velocidade para contornar à direita e fazer a primeira curva, mas Senna manteve o pé no acelerador. Apenas 9,28 segundos após a luz verde ser acionada, os dois carros colidiram e saíram da pista, descontrolados em direção à caixa de brita.
Com a poeira ainda no ar, ambos abandonaram as máquinas de corrida mais caras e cobiçadas do mundo, agora amassadas e cobertas de poeira. Correram para os boxes na esperança de uma segunda largada, mas a direção de prova não viu necessidade disso. Com os dois fora da corrida, Senna se tornava bicampeão.
Assim que percebeu que a corrida estava continuando, Senna diminuiu a velocidade e retornou tranquilamente aos boxes. Ele não trocou uma palavra sequer com Prost, mas conversou com o chefe da equipe, Ron Dennis, e teve uma longa conversa com os jornalistas brasileiros. Ele não admitiu ter causado o acidente.
Inconformado, Prost atribuiu a culpa da colisão a 250 km/h a Senna. Para o francês, a batida foi intencional, e o tricampeão não economizou palavras ao criticar seu antigo “companheiro” de equipe.
Dobradinha brasileira no Japão
Com Senna e Prost fora da corrida, a liderança passou para as mãos de Gerhard Berger. No entanto, ele encontrou óleo e detritos da colisão logo na abertura da segunda volta. O austríaco rodou e acabou parando na caixa de brita, permitindo que Nigel Mansell assumisse a liderança.
Mansell permaneceu na frente até a 26ª volta, seguido por Nelson Piquet e Roberto Pupo Moreno. Quando parou para a troca de pneus, Mansell arrancou de forma tão agressiva que acabou danificando a transmissão da Ferrari. Demonstrando sua frustração de maneira dramática, Nigel bateu no volante.
Mesmo que Mansell não tivesse tido problemas com a transmissão e continuasse na prova, Piquet e Moreno poderiam ter conquistado as primeiras e segunda posições, já que optaram por não fazer a troca de pneus.
No entanto, sem a presença de Mansell, a missão da dupla da Benetton se tornou mais fácil. Com sua habitual segurança, Nelson cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, quebrando um jejum de três anos sem vitórias. Enquanto isso, Moreno conquistou seu primeiro pódio na primeira corrida em que substituiu Alessandro Nannini, que estava hospitalizado após um acidente de helicóptero. O ídolo local, Aguri Suzuki, levou a Larrousse a um surpreendente terceiro lugar.