O dia que Hamilton atolou na entrada do boxe e perdeu o título da F1

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Lewis Hamilton é um dos maiores pilotos da história da Fórmula 1, com sete títulos mundiais. No entanto, há uma conquista que escapou por entre seus dedos, uma façanha que poucos alcançaram: conquistar o campeonato logo em sua temporada de estreia.

Em 2007, Hamilton surpreendeu o mundo ao liderar a tabela por grande parte da temporada e teve a chance de garantir o título em 8 de outubro, no Grande Prêmio da China, mas cometeu um erro crucial que custou caro.

Temporada de 2007

O campeonato de 2007 foi um dos mais conturbados da história da Fórmula 1. Hamilton, estreante na McLaren, enfrentava a competição interna com o bicampeão Fernando Alonso, ambos determinados a conquistar o título. Enquanto isso, a Ferrari, após perder o campeonato de 2006 para a Renault, buscava a redenção com Felipe Massa e Kimi Raikkonen, substituto de Michael Schumacher.

Já era evidente o talento de Hamilton, mas o jovem britânico irrompeu na cena da Fórmula 1 de forma surpreendente. Com uma velocidade e consistência impressionantes para alguém de apenas 22 anos, ele assumiu a liderança do campeonato, causando desespero em Alonso, que esperava ter um tratamento preferencial na McLaren.

A tensão entre os dois pilotos atingiu o ápice no meio da temporada, quando um escândalo de espionagem veio à tona. Nigel Stepney, ex-engenheiro da Ferrari, enviou informações confidenciais da equipe italiana para o projetista da McLaren, Mike Coughlan.

Alonso, descontente com o tratamento dispensado a Hamilton, entregou à Federação Internacional de Automobilismo e-mails que comprovavam que o chefe da equipe, Ron Dennis, tinha conhecimento do caso.

Como resultado, a McLaren foi desqualificada do Campeonato de Construtores pela FIA e multada em US$ 100 milhões (o equivalente a cerca de R$ 400 milhões hoje). No entanto, mesmo diante dessas adversidades, Hamilton chegou à penúltima corrida do ano, em Xangai, liderando o campeonato com 107 pontos, seguido por Alonso com 95 e Raikkonen com 90.

Apenas quatro pontos eram necessários, dos 20 possíveis, nas duas últimas corridas da temporada para que o britânico se tornasse campeão. Isso se traduzia em um quinto lugar ou dois sétimos, considerando que, até então, Hamilton tinha tido apenas um resultado abaixo do esperado, um nono lugar em Nürburgring.

Seu pior resultado até então havia sido um quinto lugar, na corrida da Turquia, onde enfrentou um pneu furado. Até a prova na China, o novato já havia conquistado 12 pódios em 15 corridas, incluindo quatro vitórias.

A corrida na China

Em Xangai, Hamilton garantiu mais uma pole position após uma disputa acirrada com Raikkonen. Sem chances de título, Massa ficou em terceiro no grid, seguido por Alonso.

Alguns veículos de imprensa espanhóis levantaram suspeitas de que a própria McLaren teria sabotado o espanhol, alterando a pressão dos pneus do carro número 1, o que explicaria a diferença de 0s668 no Q3 – na corrida final, no Brasil, os inspetores da FIA monitoraram de perto o trabalho da McLaren nos boxes.

No dia da corrida, choveu. A chuva não foi intensa, e a pista estava apenas úmida no momento da largada, tanto que o procedimento foi normal, com os carros partindo de suas posições originais no grid. Com todos usando pneus intermediários, Hamilton teve uma boa largada e manteve a liderança à frente de Raikkonen e Massa.

Com pista desimpedida e asfalto úmido, Hamilton estabeleceu um ritmo forte e impediu qualquer tentativa de ataque de Raikkonen, enquanto Massa e Alonso ficaram mais distantes.

A primeira rodada de paradas nos boxes não demorou a chegar, e Hamilton foi o primeiro a parar na 16ª volta. Raikkonen tentou usar a pista livre para executar uma estratégia de parada antecipada e voltar à frente de Hamilton após sua parada, mas, apesar de ter marcado a melhor volta três vezes consecutivas, não teve sucesso. No entanto, a diferença entre eles diminuiu.

No segundo stint, ambos continuaram usando pneus intermediários, e a liderança de Hamilton oscilou entre três e quatro segundos. No entanto, à medida que a pista começou a secar, os pneus de Hamilton se desgastaram rapidamente.

Diante disso, Raikkonen atacou e assumiu a liderança na volta 29. Os pneus traseiros de Hamilton estavam claramente desgastados, mas, em vez de entrar imediatamente nos boxes e arriscar trocar para pneus para pista seca, o novato insistiu em continuar na pista.

Os tempos de volta de Hamilton caíram drasticamente, enquanto Raikkonen conseguia manter um ritmo consistente com seus pneus intermediários. Como resultado, não apenas o finlandês começou a aumentar sua vantagem, mas Alonso, que vinha discretamente até então, rapidamente se aproximou do carro de Hamilton.

Quando finalmente decidiu entrar nos boxes, Hamilton fez a entrada de forma rápida demais, e a McLaren perdeu o controle na curva à esquerda que levava ao pit lane.

Para o azar do inglês, a área de escape naquele ponto era de brita, e o carro ficou preso. Hamilton fez gestos desesperados pedindo ajuda para empurrar, e, de forma cinematográfica, Ron Dennis, chefe da equipe, também se mostrava preocupado nos boxes.

No entanto, não houve alternativa para Hamilton a não ser abandonar o carro e assistir seus rivais passarem pelos boxes. Logo em seguida, todos os pilotos fizeram suas paradas nos boxes para trocar para pneus de pista seca, aumentando o ritmo da corrida.

Enquanto isso, Hamilton recebia o consolo de Ron Dennis e se desculpava com os mecânicos da McLaren pelo erro cometido. O novo líder, Raikkonen, permaneceu imperturbável como um verdadeiro Homem de Gelo, controlando a corrida com segurança e mantendo uma confortável vantagem sobre Alonso.

Enquanto isso, Massa continuava em terceiro lugar, à frente de um notável Sebastian Vettel, que estava realizando uma corrida extraordinária com o modesto carro da STR.

À medida que a pista secava, Massa começou a reduzir a diferença para Alonso e, no final da corrida, ele registrou quatro vezes o melhor tempo da volta, incluindo na última volta, mas não teve tempo para realizar um ataque.

Enquanto isso, Raikkonen controlava com habilidade sua vantagem, cruzando a linha de chegada com mais de nove segundos de vantagem sobre o espanhol.

O erro crucial de Hamilton reanimou um campeonato que parecia estar praticamente decidido. O inglês permaneceu com seus 107 pontos, mas sua vantagem sobre Alonso diminuiu para apenas quatro pontos, enquanto Raikkonen também chegava à última etapa com chances de título, acumulando 100 pontos.

Como de costume, Raikkonen celebrou com o champanhe, fazendo sua tradicional chuva de garrafa sobre si mesmo, enquanto Alonso exibia uma expressão séria e Massa comemorava ao lado do colega de equipe.

Afinal, a Ferrari, que parecia ter poucas chances no campeonato, ressurgia na disputa diante de uma equipe com sua dupla de pilotos em conflito e sob os olhares do mundo após o escândalo de espionagem.

E para Hamilton, depois de desperdiçar sua primeira oportunidade de conquistar o título, haveria ainda mais motivos para lamentar com o que ocorreria em Interlagos, semanas mais tarde, quando de fato o mundial seria perdido para Kimi Raikkonen.

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