A F1 em 1982 teve uma atitude revolucionária, que transformou o rumo das corridas. Até então, os pits stops só ocorriam em situações de necessidade, como reparos nos carros ou trocas de pneus danificados ou excessivamente desgastados. Foi no perigoso e veloz circuito de Österreichring, na Áustria, que a equipe Brabham, liderada por Gordon Murray e com o talentoso Nelson Piquet, realizou a primeira parada programada na era moderna da categoria.
O esquema foi montado rapidamente, nos moldes de Indianápolis. E a equipe anunciou essa inovação antes do GP da Inglaterra, em Brands Hatch. No entanto, acabou não acontecendo, transformando a tentativa em um blefe.
Resumidamente, a ideia era sempre competir em melhores condições do que os rivais. Seja no início das corridas, com menos combustível e pneus mais macios, ou na segunda metade das provas, com pneus novos e mais macios, enquanto os adversários já tinham seus pneus desgastados.
O plano só acabou sendo executado na Áustria, a expectativa era de um espetáculo protagonizado pelos carros com motores turbo, uma vez que a altitude penalizava bastante os motores aspirados. Nos treinos, as Brabham-BMW de Piquet e Riccardo Patrese dominaram a primeira fila.
Como foi o primeiro pit stop programado da Fórmula 1?
Na corrida, Piquet contrariando sua rotina na carreira, realizou uma largada perfeita, seguido por Patrese. A ideia da Brabham era trazer seus dois pilotos para os boxes na metade da corrida. No entanto, Piquet fez uma parada um pouco prematura, na 18ª volta das 53 previstas.
O histórico primeiro pit stop planejado em 32 anos de Fórmula 1 enfrentou alguns contratempos: os mecânicos responsáveis pelas mangueiras de reabastecimento demoraram a iniciar a operação, resultando em uma perda de cinco segundos até começarem a colocar gasolina no carro da Brabham BT50. A troca de pneus, realizada por dois mecânicos por roda, foi bem-sucedida, mas devido ao atraso com as mangueiras, o pit stop acabou durando 18 segundos.
Ainda ocupando a liderança, Patrese dirigiu-se aos boxes na 24ª volta, faltando apenas três voltas para alcançar a metade da corrida. O pit stop programado foi muito mais eficiente: apenas 11 segundos. Assim, a estratégia funcionou perfeitamente para o italiano, que retornou à pista na primeira posição, com uma vantagem de alguns segundos sobre Alain Prost, a bordo de sua Renault.
Porém, o motor BMW apresentou problemas, uma constante naquela temporada. Essa situação causou um acidente de alto potencial de perigo: devido ao óleo derramado nos pneus traseiros, o carro da Brabham de Patrese começou a derrapar sem controle pela área de escape, que, surpreendentemente, estava repleta de barrancos. Em um desses barrancos, o carro quase capotou após subir de costas, porém, felizmente, o italiano não sofreu ferimentos graves.
Piquet, que estava em terceiro lugar, também não teve sorte e abandonou a corrida devido a problemas no eixo de comando. No desfecho da prova, Prost assumiu a liderança, mas abandonou devido a uma quebra no turbo a apenas cinco voltas do final. A disputa pela vitória acabou sendo travada entre dois pilotos que estavam em carros com motores aspirados: Elio de Angelis e Keke Rosberg (Williams). O finlandês pressionou até o fim, porém De Angelis resistiu e conquistou a vitória com uma margem mínima de apenas 0,050 segundos.
Apesar do abandono duplo da equipe Brabham, a estratégia do pit stop programado havia se estabelecido como uma tendência. Nas corridas seguintes, a Brabham continuou a adotar essa estratégia, e a partir de 1983, todas as principais equipes passaram a copiar essa ideia. No entanto, a Brabham, com sua experiência pioneira com reabastecimento e troca de pneus, sempre se mantinha um passo à frente. A estratégia se tornaria fundamental no conjunto de estratégias que garantiram a Nelson Piquet o bicampeonato mundial em 1983.